Lembro-me perfeitamente de quando, ainda em miúdo, ficava ansiosamente à espera do Royal Rumble. Este evento era sempre especial, não só pelo caos controlado no ringue, mas também porque marcava o início do caminho até à WrestleMania. Era aquela altura em que as histórias começavam a ganhar forma, rivalidades se reacendiam e surpresas aguardavam os fãs a cada minuto. O que mudou ao longo dos anos? Muita coisa. Se, antigamente, este espetáculo era dominado exclusivamente pelos homens, hoje temos também o Royal Rumble feminino com 30 atletas. E foi um prazer assistir ao crescimento e diversificação do evento.
Mas permitam-me um momento de nostalgia: quando vi Trish Stratus a entrar no combate feminino, senti aquele aperto de nostalgia que não esperava. Para quem, como eu, cresceu a assistir regularmente à WWE, Trish era uma daquelas estrelas inesquecíveis. Lembro-me bem do impacto que ela teve nos anos 2000, numa altura em que o foco era muitas vezes o aspeto físico das lutadoras e não tanto a sua técnica. Claro, como jovem com as hormonas descontroladas, Trish rapidamente se tornou uma daquelas crushes eternas. No entanto, ver o seu regresso num contexto completamente diferente, onde o wrestling feminino é agora valorizado pela performance e não pelo apelo visual, foi uma experiência refrescante.
Contudo, também não pude deixar de notar a diferença de qualidade entre algumas das lutadoras mais experientes e as novas estrelas. Num formato como o Royal Rumble, onde cada entrada precisa de ter impacto, nem todas conseguiram brilhar como seria de esperar. Algumas performances pareciam forçadas, com falta de realismo, mas assim que certas veteranas entravam no ringue, a energia subia e o público respondia de imediato. Foi, portanto, um misto de emoções: momentos incríveis, algumas surpresas, mas também partes mais murchas que não prenderam tanto a atenção. No geral, saí satisfeito.
O bom e velho Ladder Match foi outro dos pontos altos da noite. Não há nada como o caos organizado que este tipo de combate oferece: escadotes por todo o lado, golpes duros e aquele toque de brutalidade que os fãs adoram. Cody Rhodes e Kevin Owens não desiludiram e entregaram um espetáculo digno dos clássicos, fazendo-me lembrar os dias em que Jeff Hardy dominava este tipo de combates com saltos espetaculares. Embora tenha faltado um momento tão icónico como os voos de Hardy, os dois lutadores conseguiram manter a fasquia alta, mostrando porque são algumas das estrelas mais confiáveis da WWE atualmente.
Mas agora, permitam-me uma breve pausa para um desabafo: sinto falta dos cenários épicos de entrada que a WWE costumava ter. Hoje, a produção está mais simplificada e as entradas perderam algum do espetáculo visual de outrora. É verdade que o ambiente nos eventos é mais intenso e a interação com o público é melhor, mas aquele deslumbre inicial, aquele “uau” que sentíamos ao ver uma entrada extravagante, parece ter-se desvanecido. Tinha mesmo de fazer esta nota, porque a nostalgia bate forte quando penso nos anos dourados das produções de grande escala.
De volta ao espetáculo principal: o Royal Rumble masculino. E que maneira de começar, com Rey Mysterio logo na abertura! Ver este ícone em ação foi mais uma viagem ao passado. O 619 continua a ser um dos golpes mais emocionantes de assistir, pela sua agilidade e imprevisibilidade, e Rey, mesmo com a idade a pesar, mostrou que ainda tem aquilo que o tornou lendário. Sempre que era chamado ao combate, entregava emoção e energia. E, claro, tivemos direito a ver mais um 619, que arrancou uma reação efusiva do público.
Entre as surpresas da noite, houve um momento que me deixou genuinamente confuso: ver o Campeão da TNA no ringue. Durante anos, a TNA e a WWE eram rivais ferozes, e nunca pensei ver os seus mundos a cruzarem-se. O que aconteceu? Parece que se fez história neste Royal Rumble, e ainda bem que estive presente para testemunhar.
E depois, a cereja no topo do bolo: CM Punk, John Cena, AJ Styles, Seth Rollins e Roman Reigns. Era só isto. Uma constelação de estrelas que garantiu um momento digno de ser lembrado. Este Royal Rumble não foi perfeito, mas foi uma combinação de nostalgia, emoção e momentos inesperados, exatamente como deve ser. Se o ano da WWE começou assim, mal posso esperar para ver o que nos reserva a WrestleMania.